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A Arte nos salvará da IA




Já faz algum tempo venho observando, estudando, refletindo e escrevendo sobre o comportamento das pessoas diante do avanço das diversas formas de tecnologia nos espaços de domínio humano. Meu último texto a respeito “A Tecnologia da Biologia Humana”  estampa o subtítulo: HUMANOTECNOLOGIA – A SOBREVIVÊNCIA. Meu pensamento e minha capacidade de expressão estão sempre orientados pela inegociável crença no potencial evolutivo de cada ser humano. Partindo desse pressuposto, desenrolo esse texto baseado em minhas últimas descobertas e experiências, as quais trouxeram sentimentos variados e conflitantes com relação à pergunta: o que nos reserva o futuro?


O texto citado acima traz o clamor para uma espécie de união em torno da construção tecnológica moldada com o propósito maior de potencializar mais e mais a capacidade evolutiva humana. Esse movimento precisa caminhar em duas frentes igualmente importantes: o desenvolvimento das inteligências artificiais e a potencialização das inteligências biológicas. Essas duas imensas fontes de transformação precisam caminhar juntas, levando sempre em consideração a prevalência da espécie humana.


Desde a elaboração do texto, o que não faz nem tanto tempo assim, muitas coisas aconteceram, aliás, esse tem sido um dos fatores de assombro até para as mentes mais evoluídas no campo da IA: a velocidade de desenvolvimento cognitivo dos algoritmos cada vez mais autônomos. Comecei a sentir uma ponta de desânimo observando a voracidade com que o mercado vem se apropriando das maravilhas ainda rudimentares que os robozinhos podem proporcionar. A razão para tanta obsessão é antiga e, na verdade, vem sendo, historicamente, o pilar principal de muita destruição no planeta: maximização dos lucros, isto é, fazer mais e mais com menos e menos em paralelo com a obstinação pelo poder.  Não há necessidade de detalhar os impactos destrutivos para as pessoas com o avanço desenfreado dessa lógica, no entanto, vale a pena lembrar alguns: concentração da renda e aumento da pobreza, eliminação massiva e repentina de postos de trabalho, perda da relevância e sua consequente implicação na autoestima, a degradação ambiental essencial à vida neste planeta e finalmente, o alerta principal propagado por cientistas de grande relevância no estudo da IA - a sucumbência da espécie humana para uma inteligência infinitamente mais poderosa: A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL GERAL (aquela em que todas as formas de IA, hoje fragmentadas, se integram conquistando a temida independência).


Apesar de todo o murmurinho cada vez mais ressoante nessa direção, e movido pela confiança na habilidade humana em se reinventar, venho trabalhando com um grande amigo e parceiro de vida profissional na elaboração de textos que remontam todo um histórico de experiências e estudos a respeito da autogestão objetivando a elaboração de um livro. A autogestão faz o movimento na direção da valorização do ser humano através da disseminação da autonomia com responsabilidade, estimula a participação no processo decisório do dia a dia e a criação compartilhada de soluções. O ambiente de colaboração mútua estabelece o erro como uma fonte valiosa de aprendizado, tendo o respeito às diferenças, a empatia e o espírito de equipe como valores intransponíveis. 


Intrigado pela dicotomia (bio x tec), cometi um erro “acertado” quando me inscrevi em um curso promovido por um grande provedor de conhecimento na área de tecnologia a respeito de Equipes Autônomas formadas por Multiagentes. Eles diziam em seu material promocional – “Aprenda a criar, contratar e treinar equipes autônomas que trabalham sem parar!”. Achei aquilo o máximo, a conexão perfeita entre as duas partes. Uma empresa de ponta na pesquisa da IA disseminando um conteúdo voltado para a liderança e ao desenvolvimento da autogestão para as pessoas. Minha imaginação foi de que seria um grande momento em que eu teria a oportunidade de experienciar a integração de mentes tecnológicas com mentes humanas. Um grande engano. Ao chegar no local, logo notei que entre os 70 alunos, eu era o único sem um laptop. Ao iniciar o treinamento, percebi que a proposta era totalmente outra.


Os Multiagentes eram as diversas formas de IA (robôs) com habilidades diferentes para executar tarefas variadas tais como: pesquisas, atendimentos por voz ou chat, prover respostas, solucionar problemas, criar relatórios, etc. Todo o processo de contratação, criação e treinamento era dirigido aos Agentes não humanos. Enfim, uma grande decepção para mim. Mas, por que então teria sido um erro acertado? Bem, nada melhor do que você se infiltrar no meio deles para ver de perto o que está acontecendo. Logo me emprestaram um laptop e eu comecei a criar meus próprios robozinhos agentes. O fato é que isso foi um choque de realidade. Por mais que tivesse conhecimento da prática, vivenciar aquele ambiente foi perturbador. A motivação do aprendizado era a redução drástica de mão de obra, aumento exponencial da produtividade e maximização dos lucros, conforme demonstrado nos gráficos exibidos no primeiro módulo do treinamento. Imagina meu estado de espírito ao sair de lá, estava um tanto atordoado. Confesso que o desânimo com relação ao futuro voltou a bater em minha porta, minha mente não parava de pensar como poderia encaixar a imperfeição humana diante da perspectiva de um mundo tão previsível onde todas as peças se encaixam perfeitamente e em velocidade acelerada?


Aí então, eis que surge a luz! Não por acaso (meu lado místico falando) tinha aceitado o convite de uma grande amiga e comprado ingressos para o espetáculo de encerramento do ano da escola de dança da qual ela, minha amiga, faz parte, chamada Milena Malzoni Dance Center. O espetáculo tinha o nome LEGO.  Para mim, foi mais que um espetáculo de dança, foi uma verdadeira catarse. A apresentação era realmente um LEGO, alternando diversos estilos clássicos e contemporâneos de dança. Foi um lindo espetáculo, mas a beleza essencial, a grandeza maior, estava muito além da perfeição de movimentos ou destreza técnica dos integrantes. Eram várias pessoas, a grande maioria alunos, com figurinos que variavam dinamicamente entre um estilo e outro. Pessoas comuns, como eu ou qualquer uma sentada no auditório, de diversas idades, desde crianças até aquelas jovens há mais tempo, ali, dando absolutamente tudo que tinham, em um conjunto coordenado, colaborativo de complementariedade, entregando uma experiência de beleza. Corpos de todos os tipos físicos, sem padrões preestabelecidos, entregando movimentos alternadamente firmes e leves, dramáticos e descontraídos. Alguns demonstravam grande desenvoltura, outros, concentração, não importava, todos fazendo o seu melhor pelo mesmo objetivo. Havia duas sessões programadas, eu presenciei a primeira. Era a primeira vez para valer deles também, tenho certeza de que erros aconteceram, embora que imperceptíveis para o público, no entanto, era possível respirar a energia empática entre as pessoas em cima daquele palco.


Enxerguei várias histórias de vida ali, entregues a um momento único, um momento de superação, quebra de paradigmas, ruptura de crenças limitantes enraizadas nas entranhas. A prova viva da capacidade humana acontecendo na minha frente. Os pontos foram rapidamente se conectando e meu coração transbordando de alegria e esperança. Foi então que cheguei a seguinte conclusão:

NÃO IMPORTA OS CAMINHO QUE A TECNOLOGIA NOS LEVARÁ, TEREMOS SEMPRE A ARTE COMO EXPRESSÃO PARA NOS SALVAR.

 

Parte do lindo texto exibido no telão, antes e depois do espetáculo:

...

“É nas falhas, nas lacunas, nas imperfeições que encontramos a verdadeira grandeza e espaço para movimento.

É diante da falta, do espaço, do vazio que somos desafiados a crescer, a nos reinventar, a buscar soluções criativas e a explorar novos caminhos.”

...

“É nesse lugarzinho vago, nessa montagem meio desajustada e incerta que habita a verdadeira essência, a magia da transformação e infinita capacidade de adaptação.”

                                                                                                Milena Malzoni

Foto do elenco do espetáculo LEGO


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